sábado, 26 de abril de 2008

RETROCESSO (cont...)

Naquele Centro, haviam mais coisas a se pensar. A influência do passado nas pessoas que estavam ali, por exemplo. Mas, quão consciente esse passado seria pra elas? Em um momento de descanso e introspecção, aproveitando a entrada de sua irmã e mãe na sala escondida, ela ajeitou-se na cadeira, fechou os olhos e deixou-se levar pela música e pela calma que brotavam daquele ambiente.

Estava tudo escuro demais para que eles pudessem desistir ali. Agora, teriam que ir até o final, seguindo a textura macia da areia, a entrar no chinelo dos dois. De mãos dadas, provando que existia confiança, eles caminharam até o fundo da praia, iluminada apenas pelas estrelas cintilantes. Ela, no auge dos seus 17 anos, nunca havia passado por aquilo e sentia-se ofegante ao descobrir um mundo novo, deserto, onde somente o amor a levaria. Ele, marcante presença, a guiava, convicto do que estava a fazer. Como seus olhos nada podiam ver, seguia-se apenas pelo tato e pelo barulho das ondas, a visitar a areia.

Até ali, nunca sentiu-se tão engajada em uma aventura. Sabia dos riscos a enfrentar na noite, em uma praia deserta e tão escura. Ouvira, em raros momentos, gemidos, de algo que ela não poderia decifrar se era animal ou ser humano. Encontraram pedras e pedras. E subiram-nas até a parte mais alta e segura. As ondas que batiam nas rochas, respingavam nos dois, que riam, contentes por terem concretizado tamanha aventura.

Não dava pra enxergar o mar, bem como os olhos esverdeados e alegres dele, mas dava pra sentir sua mão apertando-lhe em um abraço carinhoso. Ela sentia-se protegida, quer onde estivesse. E, com dificuldade, os dois sentaram-se, ela no seu colo, em uma das pontas mais altas da rocha. O tempo que permanaceram ali seria incontável. A meditação se fez, e os dois entendiam o motivo do silêncio e do som do vento, misturados sequencialmente. Paz.

Ela estava com uma dor fina na cabeça, que deduzia ser do medo passado ao caminhar. Só não entendia porque não melhorava, já que o destino final havia acalmado os dois. Mas, ao olhar para o lado, sua visão pareceu enganar-se. Vira, com uma nitidez cega de quem não entende, uma luz forte, delineando os contornos do que seria um rapaz, a menos de dois metros. Piscava as pálpebras sem parar, na tentativa de estar vendo somente um vulto, ou reflexo do inconsciente. Essa luz, aos poucos clareava, mostrando a figura, surgida não sabia de onde, que ali estava, em frente aos dois. O contorno detalhava o que seriam cabelos compridos e esvoaçantes, e enfatizava bem a posição com que ele sentara- de pernas abertas, mãos cruzadas, olhando em sua direção. Certificando-se que somente ela via, e que não era algo passageiro ou miragem de sua cabeça, ela balbuciou algumas palavras para seu namorado, que pôs-se a tremer, assustado, olhando de um lado pra outro. E, os dois não conseguiram levantar-se por um bom tempo, mesmo que lutassem com todas as forças para aquilo acontecer. Havia algo que os travava, endurecia, imobilizava... Sem respostas do corpo, puseram-se a orar. Em lágrimas, não teriam mais o que fazer.

Aquele dia nunca mais foi comentado pelos dois, por ordem dela, que não entendia o que havia visto. Antes de dormir, vinham flashes daquela noite, ela nunca conseguiu entender como saíra das rochas, da praia, já que isso sua mente não havia registrado.

Todavia, tinha a certeza de que ele permanecia. Aquele rapaz a seguia, mesmo que ela, assustada, permanecesse a vê-lo em silêncio.

20 comentários:

Anônimo disse...

Embora muitas vezes não possamos ver ou ter a sensibilidade para sentir, não estamos sós.

O Sibarita disse...

Dona moça! Ainda bem que estava por aqui... kkkk

Olhe, essas coisas acontecem com muita frequência... Ocorre que todos nos encarnados, sem excessão, somos médiuns, uns aflorados outros não.

E todos nós reencarnamos para o progresso do espírito e como se dá isso? Pela lei do Livre Arbítrio que o Mestre Jesus nos deixou, ou seja, pelas nossas escolhas, pela nossa bondade, pela nossa compreensão, pelo nosso perdão...

No caso da moça que viu um desencarnado, fica claro que ela é uma médium vidente e precisa ser trabalhada para que possa ajudar os nossos irmãos, ela veio para isso, é ai é que surge a lei do Livre Arbítrio, uns vão em busca do saber, do aprendizado procurando um Centro Espírita Kardecista ou não (Exite a Umbanda) e procuram estudar, se aprofundar para que possa ser uma trabalhador(a) da Seara do Mestre Jesus, outros, como parece a moça ai, não liga, talvez por desconhecimento.

Os que não procuram entender o que se passa consigo permanecem na dúvida e no medo, os que procuram entender se desenvolvem dentro do Centro Espírita.

Quanto ao espirito que aparece ou apareceu para ela, pode ser um obsessor quem vem de outras encarnações em busca de vingança, não se sabe o que eles foram no passado, pode ser uma pessoa que desencarnou afogado já que ela estava na praia e ele ainda não teve a consciencia de que é um desencarnado e quer contatos com o encarnado, então, ele fica se perguntando porque ninguém fala com ele, etc.

Ela só vê ele e outros se for o caso por que como eu disse é médium e precisa trabalhar essa parte.

Ao meu ver dona moça a senhora, opa! kkk Desculpe, a moça que vê tem que ir a um Centro Espirita para um atendimento fraterno. Ok

Olha, as sextas-feiras à tarde avisa a moça que estou no FEIS-Fraternidade Espírita Irmã Scheilla, na Rua das Rosas na Pituba.

Se por acaso ela se interessar, lá no Sibarita tem email mande ela passar um que respondo e terei o máximo prazer em poder ajudar.

bjs
O Sibarita

Bandys disse...

As vezes temos a mediunidade e temos medo de enfrentarmos nossas missões.
Mas devemos tentar descobri-las e estar sempre prontos a ajudar.
Um domingo de muita paz, e um beijo no ♥

São disse...

O passado só importa para que aprendamos com o que não correu assim tão bem...e avancemos.
Um abraço grande.

Sorrisos em Alta disse...

Não comentam eles os 2, pois comento eu!
:o)

Linkei-te ao meu blog.
Espero que não te importes...

Beijo
E boa semana

Anônimo disse...

Não, não estamos sós, graças a Deus1

Justine disse...

Virei acompanhar a tua história ! E ouvir a excelente música!
E obrigada pela tua visita :))

Odele Souza disse...

Algumas coisa fogem ao nosso entendimento.As várias manifestações da espiritualidade por exemplo.

Um abraço e bom domingo.

Daniel disse...

Olá Aureala Branca

O conto é maravilhamente romântico e muito bem conseguido.
Deduz-se que o bonito amor adolescente, terá sido consumado. O bastante, para antes do terceiro período de 25 anos do século passado, dar direito a casamento forçado, ou em alternativa 2 anos de cadeia.

Daniel

O Profeta disse...

Leio-te...lei-to e...cada vez te admiro mais...


Doce beijo

Lord of Erewhon disse...

Falta emoção no texto... deveria ter uma parte em que passeavam de mão dada à beira-mar... e saltava um tarado com um machado de uma rocha e cortava a cabeça aos dois!

Ela disse...

Eu fiquei encantada com a forma por dizer profunda, que tu escreves.

Obrigada pela visita.

Anônimo disse...

Muito obrigado pela visita volte mais vezes!
Amei seu blogger...

Um Momento disse...

Bem...
Cada linha ( deste e do texto abaixo) assimilada com muita vontade em cada frase...
Há momentos inexplicáveis nas nosss vidas que nos acompanham ao longo da mesma...
Há situações que por mais que se queira jamais se soltam da nossa memória
Parabéns, adorei ler!

Deixo um beijo agradecido por estes Momentos!

(*)

Eremit@ disse...

tenho enviado e-mails aos particioantes do nosso Jogo das 12 Palavras e vêm massivamente devolvidos.
Portanto desculpa, mas vou colar aqui o texto de um e de seguida vou ler os teus dois últimos posts.

que as outras 2 participantes já enviaram 3 palavras cada.
Com as minhas, que todas receberam, já temos 9.
Faltam as tuas 3, mas estás com muito tempo ainda, no entanto, apesar do calendário feito e aparentemente aprovado - não recebi opinião contrária - se tiver as 12 palavras mais cedo, envio-as logo e cada participante disporá de mais tempo para elaborar e afinar o seu texto.

Portanto, amiga de além-mares, quando quiseres podes enviar as tuas 3 palavras mágicas que encerrarão o círculo mágico deste nosso 3º Jogo das 12 Palavras.

PALAVRAS DO 1º JOGO

AMORTECIDO
AVASSALADOR
AZUL
CÉU
COMUNGAR
DISTANCIAMENTO
ERODIDO
FAROL
FUSÃO
IMENSO
MAR
TEMPESTADE

PALAVRAS DO 2º JOGO

Caixa
Chocolate
Degrau
Envolvente
Flores
Licença
Linha
Sol
Sombra
Ténue
viagem
Vida
MINHAS 3 PALAVRAS PARA ESTE 3º JOGO

Energia
Morte
Obstrução

Fraterno abraço do
Eremita

Eremit@ disse...

Ficção ou realidade vivida por alguém deu para perceber bem a situação relatada. Se vivenciada e no momento em que medita, num centro espirita onde acompanhou mãe e irmã. e é esta vivencia que emerge é porque necessuita ser trabalhada.
Minha M.M tinha alguma capacidade. Sentia e via algumas coisas, por isso falo disto agora que peguei seus livros e os venho lendo. Sempre respeitei o que me contava apesar de comigo nada acontecer semelhante.
Agora, talvez porque me afastei da mundanidade corrida do trabalho e preocupações sobre o mesmo, sempre presentes, e também porque tenho estudado nos livros da M.M por vezes sinto presenças fortes, que não vejo, mas sei que estão ali. Algo que aprendi com a minha M.M foi a não temer. Dou as boas vindas à presença e, mentalmente falo com ela tentando orientar ambos.
Outras vezes a casa fica com um perfume e uma paz enorme desce sobre tudo e sobre mim, como se fosse mimado, acarinhado.
Só sinto, mas sei que o que sinto é tão real, ou mias do que tantas outras coisas que vejo com os olhos do rosto.
A ser real e não ficção é necessário ir ao encontro desse rapaz que continua amarcar a vida de alguém e saber o que é necessário.
fraterno abraço

Anônimo disse...

A nossa mente é muito complexa...
Vamos lá saber o que por vezes esconde!

Bj

Alessandra Castro disse...

Uma sensibilidade tocante em seu texto. Gostei muito mesmo. Retrata bem todos os detalhes arrepiantes existentes em um relacionamento humano. ;)

Valhalla disse...

Olá!

Vim agradecer pela visita, e pelo sorriso. ;)

Gostei muito do seu blog, juro que fiquei morrendo de medo quando apareceu uma luz no breu (tenho fobia de alienígenas - isso é, se é que eles existem)...

Mas enfim, coisas emocionantes são assim!

Outro sorriso pra você!

Anônimo disse...

devias amiga procurar través de nosso irmãozinhos, saber realmente o que está acontecendo.
pode ter sido carmas de vidas passadas.
não tenha medo e procure orientação , com pessoas entendidas.
beijos e um lindo texto.
apareça no m,eu blog. te aguardo.
beijos deusaodoya.