segunda-feira, 7 de abril de 2008

Ela estava ansiosa. Tinha dormido mal a noite passada. Nada , nem ninguém poderia convencê-la a se acalmar...

O consultório estava frio, como as suas mãos. Sem querer transparecer seu nervosismo perante desconhecidos, caminhou pra entrada do consultório e pôs-se a ler revistas. Uma delas falava da beleza feminina e quanto custava manter-se sempre bela. "Futilidades!"-pensou ela que, nos últimos meses, havia dado valor aos mínimos detalhes da sua vida. Cada coisinha, cada flor, cada pôr-do-sol era sublime com a incerteza de vê-los pela última vez. Sua mãe e sua irmã, que passaram a semana inteira preocupadas, não entendiam de onde vinha o sorriso a cada manhã... Mas, por dentro, ela era só lágrimas...

Havia abandonado a idéia de partilhar suas frustações com alguém especial. Alguém que ainda reinava no coração dela. "Ele nunca irá saber de nada!"- Jurava consigo mesma, depois de ter prometido sumir da vida dele. Ele, ao contrário de tantos que prometeram cuidar dela, era bastante diferente. Ele era a pessoa que ela nunca teve, e por isso, encravava-se permanentemente em seus pensamentos noturnos.

O ar-condicionado esfriava o consultório, e ela havia se arrependido de ter entrado sozinha. O mármore da mesa da Dra era gélido e penetrava nas mãos como se fosse uma faca. Tudo era muito calmo, sombrio... Com um ar superior, aparentando estar sempre certa do que diz, a Dra examinou os exames e escreveu no computador o bastante para irritar quem ali estivesse.
Virando-se, do nada, concluiu que, baseado nos exames ali feitos, não deveria ter se preocupado. Tudo o que ela tinha era normal em mulheres. Nada além. Ela, tentando se acalmar do susto, sorriu pra Dra, levantou-se da mesa e saiu. Nos lábios, o alívio. No coração, a tristeza permanecia igual. Esses dois meses não eram o bastante pra esquecer tudo. E, pensar em uma despedida não seria tão doloroso quanto sustentar a distância que um dia ela criou.

E ela chorou...