LUZ LARANJA

Endireita-se no muro branco que separa a areia do asfalto. Na mente, um pensamento- traduzir a cidade em que vive nas poucas e resumidas palavras. Observa o pôr do sol. Ao longe, milhares de pessoas ainda permanecem na praia, saudando a chegada da noite na grande Salvador.

A luz que finda o dia em tons alaranjados ainda ofusca seus olhos escuros, que se fecham. Ali, ouve-se gargalhadas, músicas em ritmo de percurssão e buzinas que englobam o cenário do Farol da Barra.

E ela, com o dilema de explicar como é sua cidade, ao blog...

Seu olhar extende-se de uma ponta a outra da costa. Histórias e religiosidades juntas, ali. E não por serem integrantes da amada Salvador, mas por entenderem-se, pertencerem-se, aceitarem-se cada qual no seu cada qual. Aqui, Deus, Orixás, Santos e Bíblia são unidos pela fé. Não seria difícil enxergar outros pontos turísticos da cidade. De um lado, um porto antigo, do outro o Cristo Redentor. Tudo é muito próximo, e muito receptivo.

Novamente ouve-se vozes. Dessa vez é uma baiana de acarajé, explicando ao turista o que a “nega” tem de bom. Ele parece reflexivo. Um menino passa mercando picolé, enquanto o afro endireita suas tranças presas por bolinhas brancas. Vê-se de longe brancos, negros, mestiços, mulatos, índios e tudo mais. Sim, há mais do que cores ali, há cultura.

A praia já está mais vazia, mas não menos silenciosa. O sol se pôe ainda com preguiça, deixando sua beleza no horizonte. No rosto dos habitantes dali, um sorriso. E uma cumplicidade gostosa no olhar de cada um.

Ela continua sentada, com o olhar a observar seus vizinhos. De repente, como que para deixar sua marca registrada, o sol some pelo mar azul, e ela entende que aquele sol não está lá, no infinito, mas dentro de cada baiano que vai dormir sorrindo. A palavra “felicidade” permanece na mente dela, e ela sente o que é ser baiana.

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