segunda-feira, 14 de abril de 2008

SENSIBILIDADE QUE DÓI

Observara tudo, na sua quietude sábia daquele momento. Enquanto esperava o ônibus na estação, concentrava-se nos andares, nos ritmos, na maneira como pessoas iam e vinham, esbarrando-se umas nas outras. Mas algo chamara sua atenção. Um ponto fixo, alguém que poderia ensinar-te mais do que qualquer outra coisa.

Aquele ser humano, que mais parecia um amontoada de trapos e pedaços de madeira, não se importava com os olhares de desprezo e nojo diante do que fazia. Para ele, nenhuma censura seria eficaz para tirá-lo dali, daquela situação que ninguém, nunca, deveria se encontrar. Não aparentava ter distúrbios mentais, tampouco estar fora da realidade que vivia. Ele sabia, exatamente, que era um marginalizado da sociedade, não porque quizesse, mas por não haver escolhas. Com o tempo, essa definição grudara nele como seus panos velhos, e ele desistira de falar que, em meio a multidão, ali estava, a pedir socorro.

Sua aparência assustava. Um negro alto, meio curvado, sujo, vestido de farrapos pretos. Colecionava muitos panos sobre si, um embaixo do outro, e na sua mão carregava uma sacola rasgada. Caminhava com dificuldade, devido a uma luxação em um das pernas. Olhando, via-se nitidamente a forma arcada no lugar ferido. Talvez já nascera assim. Talvez tenha adquirido em um acidente, atropelo... Certamente doía, pela expressão facial do homem, ao caminhar.

Aquilo era o retrato de tudo o que poderia machucar o coração. Mas não o de qualquer um. Muitos haviam tanto o que se preocupar, que acabavam por nem enxergar aquele indivíduo, na sua pressa. Seus olhares não estavam prontos pra enxergar um outro lado.

Aquele pobre homem certamente não era feliz. Mas, se conformava.

Acompanhara seus movimentos, tentando entender como existiam tantas diferenças no mundo. Em cada passo, um exemplo de vida. Em cada olhar triste e receioso, uma dor a bater na alma.

Entrou em um dos botecos que servira comida. Certamente pedira sobras, o que lhe foi negado pelo vendedor. Com um olhar comprido, ele observava os pratos de alguns clientes que terminavam de almoçar. Ele se contentaria com aquela carne deixada pela moça, ou aquele feijão duro que o homem se queixava, ou até mesmo com metade do prato de comida que a criança teimava em jogar fora. Na condição dele, os restos não faziam diferença.

Foi enxotado como cachorro pra fora. Aos empurrões, desequilibrava-se nas pernas. E os ônibus freiavam, na pista, receiosos da sua passagem. Ele não xingava. Ele não exibia nenhuma reação àquilo tudo. Pacificamente, seguia seu rumo, a caminho de uma lixeira mais próxima, onde cataria seu macarrão e o comeria sem ninguém incomodar.

O ônibus chegara, mas um último olhar se deu para aquele homem que, mesmo sem perceber, trazia aos olhos a incompreensão e as injustiças da humanidade. Humanidade?

Ali, aprendera a enxergar o poema de Manoel Bandeira...

"Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem."

41 comentários:

Pedro M disse...

"O homem é um lobo para o homem."

Não sei quem estou a citar, mas o teu texto ilustra bem a (des)humanidade em que vivemos.

Um beijo

Pena disse...

Maravilhosa Amiga:
Brilhante e talentoso texto.
A dignidade humana deve presentear, absorver e ser pertença de toda a Humanidade, seja ela como for.
É da simplicidade de carácter que se fazem os grandes homens. É nas aflições e constrangimentos que surge o bem e o mal.
Como a admiro...!!! Muito.
O retrato daquele pobre homem é de um amor imenso. É de uma postura semelhante a muitos homens e mulheres desprezados, mas valiosos pelo sentir o mundo na sua imensa simplicidade de aceitação de tudo, mas mesmo tudo. Têm tanto a dar, a receber.
Excelente, doce e terna amiga. Adorei!
Que o seu lindo exemplo neste texto sublime sirva de exemplo à Humanidade toda.
Beijinhos de amizade, de estima e respeito sinceros.
Sempre a lê-la e admirá-la.
É linda!!!!!!!!!!!!

pena

Oris disse...

Um texto que consegue descrever muito bem, o que se passa por este mundo, tão desigual.
Gostei muito de o ler.

Passei para agradecer a passagem pela minha casa.

Beijitos

poetaeusou . . . disse...

*
brilhante prosa,
alva, transl�cida,
uma branca aur�ola,
,
conchinhas
,
*

Eremit@ disse...

se fosse católico diria: o "bicho" era Deus, OU não era um bicho, mas um filho de Deus...
Não o sendo assumo esta última como verdade.
Entendo que tudo o que é vivo é filho da criação, Deus ou o que quiserem chamar.
Não queres entrar no nosso Jogo das 12 Plavras?
Serás bem-vinda e estou seguro deque enriquecerás o conjunto.
Fraterno abraço

Gustavo J. Barreto disse...

oi obrigado pela visita no meu blog, e eu vou procurar falar mais de alguns livros que eu gosto, e realmente estre livro é ótimo, t+ bjux

Anônimo disse...

Sabes, amiguinha? Não estamos preparados para admitir a miséria humana. Simplesmente voltamos o olhar para outro lado. E quantas dessas pessoas, a quem negamos um simples olhar, valem muito mais que nos?

"O melhor amigo é aquele que mesmo
distante, jamais te esquece.
Passei para te dizer..
Olá amigo(a)"

Um optima de semana

Abraço amigo

Mario Rodrigues

Eremit@ disse...

Cá aguardo teus dados e, por favor está em a votação a hipótese de ser Mensal ou quinzenal.
Como os textos são muitos e esperamos que o nº de participantes continue aumentando, propuseram que passasse a mensal para todas/os terem tempo/espaço para ler e distanciarem-se para nova criação.
Bastará que, quando enviares teus dados acrescentes:
SIM MENSAL
ou
SIM QUINZENAL
Fraterno abraço

Carla disse...

a miséria dos mais desprotegidos...fortes e intensas as tuas palavras

jo ra tone disse...

Vida real
A pessoa em questão representa parte (uma grande parte da humanidade ) que somos nós.
Humanidade?
Tem muito a desejar,
Está a ser tratada como bicho
Quantas toneladas de alimentos próprios para consumo , não são atirados diáriamente para as lixeiras nos países ditos civilizados?
Quem é a pessoa em questão, senão Jesus, nosso irmão?!
Abracito

Lyra disse...

�N�o desejo mais ser feliz e sim apenas estar consciente� - Albert Camus

Parab�ns pelo blog e at� breve!

;O)

Maria Clarinda disse...

Soberbo este teu post e o seu final a apoteose total!
Parabéns. Adorei
Jinhos no coração.

Anônimo disse...

Fiquei deveras impressionada com a tua descrição e com o poema.
Boa noite e que a luz se sobreponha às trevas.

Vampiria disse...

Por isso mesmo dói, por ser sensivel :)

Sorrisos em Alta disse...

Oi!

Obrigado pela visita e pela simpatia!

Chuack

Eremit@ disse...

Olá, desculpa vir deixar recado nos comentários mas ainda não tenho o teu email. É só para lembrar que se estás a ponderar esntrar nese 2º Jogo das 12 Palavras falatam sete dias para a data limite da recepção de textos - dia 23 abril
Fraterno abraço e até ....

Chama Violeta disse...

Lindo!!!! Essa poesia toca fundo!
Fico muito feliz que tenhas encontrado tua luz e que eu ou meu blog, de alguma maneira tenham te auxiliado.

Estamos aqui para tentar auxiliar nossos irmãos de jornada.E hoje essa é minha meta, seja na vida real ou aqui no mundo virtual, com as palavras deixadas em meu blog.

Se quiser compartilhar comigo esse encontro, ficarei muito feliz!!!
Um grande abraço fraterno e um beijinho violeta! FICA NA PAZ

O Pinoka disse...

Cada vez há mais “bichos” destes ao abandono.
Assusta-me observar o caminho que a sociedade leva. Cada vez isto é visto de forma mais natural, como se não pudesse ser evitado e assim temos de nos habituar a vê-los enrolados aos cantos e portas de prédios mais escondidos. Como se de facto de outra espécie se tratasse. É cruel.
Beijos

Anônimo disse...

Ola, como vai? encantador seu refúgio, adorei receber-te em meu jardim, espero q volte mais vezes...parabéns por tão belas palavras, bjos mágicos e ate breve

NunoSioux disse...

Este mundo é cruel!

;)

Anônimo disse...

Vim agradecer a amável visita e dar uma espiadinha no seu blog. Infelizmente o corre-corre impede que muitos depositem seus olhares sobre seus semelhantes. Como você,observo o tempo todo - uma característica do meu signo...rs- e nas palavras de Bandeira vemos que a desigualdade social é bem antiga e não houve de fato uma preocupação com ela.

AC disse...

Infelizmente lindissimo.

Beijo

Fernando Santos (Chana) disse...

Olá, belo texto que retrata as desiguldades da sociedade !
Gostei muito.
Beijos

Thiago Borges disse...

Excelente texto...
Eu às vezes paro e vejo essas cenas... Não sei se fico com nojo, com dó ou com raiva daqueles que nada fazem por essas pessoas...

abraços

ღ mey ♥¨`*•.¸¸.•*´¨♥ღ disse...

oieee guri :)
vi que curte cinema, então que tal conhecer meu blog, sobre cinema, música e livros?

bjoss =**
meytamorphoses - t espero!

Adri disse...

Manuel Bandeira disse tudo...

Bandys disse...

Retratou tão bem o que se passa nesse noss mundo que por tantas vezes não entendemos.
A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade.
Beijos

Sérgio Figueiredo disse...

Querida Amiga,

Quanta verdade e sensibilidade neste teu Post. Esses desgraçados que a vida quiz assim para eles, não passam de simples "movimentos" que andam nas ruas, sem que, não direi ninguém, mas a maior parte das pessoas pare um bocadinho, lhe dedique um olhar e pense... depois diga... Porquê?

São tristes este relatos da realidade.

Beijo

~>Angra Gontijo<~ disse...

~>~>Agradeço a sua visita..
sempre que quizer..estarei lah, pra falar com o coração(como vC disse)..
Adorei seu blog..
seu texto eh incrivelmente bonito..

Aquele poema do Manoel Bandeira eh muito chocante, ele mostra o quanto vivemos em um mundo com ectrema desigualdade, e que não dá valor aos homens que vivem aki.!
~> é sempre algo muito triste rever essas histórias<~...

passarei sempre por aki.!
=*

Odele Souza disse...

Bonito o seu blog e gostei muito de seus textos.

Gostei de ver aqui a letra da música de Oswaldo Montenegro. Gosto muito dele.
Quero também agradecer pelo link do blog de minha filha Flavia.

Um abraço pra você.

kakauzinha disse...

Gostei muito deste texto e do poema. É uma triste realidade do mundo em que vivemos porque nenhum animal deverá ser escorraçado por ter fome.

Mas o dito Ser "humano" é precusor da maldade, daí que caia na sua própria teia.

Espero que as novas gerações tenham mais compaixão, entre si e também de todos os nossos amigos de quatro patas. Afinal, temos escolhas possíveis temos livre arbítrio, afinal todos somos animais e nós ditos "humanos" temos a bondade de Deus nos ter concedido mais poderes. E digo poderes apenas porque por vezes questiono-me acerca da também dita "inteligência".

Agradecida pela tua simpática visita, também gostei muito de aqui estar. Até breve.

Beijinho muito azul*

disse...

É triste isso. As pessoas sem tempo de perceber as injustiças que elas mesmas fazem e sofrem. A crueldade social.

Bjo

oceanus disse...

...como ficar indiferente ao teu olhar diferente...

... ficamos frios e insensíveis, e a dor dos outros nada importa...

gostei do teu olhar sensível!

bjs do fundo do Oceanus

Cacau disse...

Olá..
Muitas vezes já estive na situação dos que passavam e nem notavam, mas também já parei pra reparar.
A desigualdade é o pior, dos efeitos colaterais do capitalismo. Mas ainda há gente no mundo que se dedica a ajudar essas pessoas, mesmo que muitas os tratem como animais.

Bjos e obrigado pela visita
vou voltar mais vezes aqui.. adorei

Bill Falcão disse...

Vim agradecer sua visita, amiga blogueira!
Belo post, que fecha lindamente com o grande Bandeira. Aliás, foi lançado um livro dele pela Coleção Folha nas bancas, você já viu? Dá uma olhada!
Volte sempre, tá bem?
E um bjooooooooooooooooooooo!!!!!!!

Isabel Filipe disse...

um belo texto...


vim agradecer a tua visita e palavras deixadas ...
volta sempre que queiras


beijinhos e bom fim de semana

Suave toque disse...

"Durante toda nossa vida, pessoas passam por nós,
Dia após dia,
Más somente algumas dessas pessoas ficam para sempre em nossa memória.
Essas pessoas são ditas amigas...
E as levamos para sempre em nossos corações,
As vezes pelo simples fato de terem cruzado nosso caminho,
As vezes pelo simples fato de nos terem dito uma palavra de conforto, quando precisamos,
As vezes por terem nos dado um minuto de atenção,
Nos ouvindo falar de nossas angústias, medos, vitórias, derrotas...
As vezes por terem confiado e nos terem contado também seus problemas,
Angústias, medos, vitórias e derrotas...
Isso é ser amigo, ouvir, confiar, amar,
E amigos de verdade ficam para sempre,
Longe, perto...
Assim como as pegadas na alma."

Um grande beijo e um feliz final de semana.

Elcia Belluci

São disse...

Um texto muito bem escrito, focando uma realidade dura e cruel que nos cerca !
Gostei da música de fundo.
Um feliz fim de semana.

Thiago disse...

Bonita homenagem a todos aqueles que se passeiam pelas nossas ruas marginalizados pela própria vida...Um abraço forte de todos os meus eus

Alberto Oliveira disse...

... o que não é agradável à vista "não existe". A indiferença à miséria, não é mais que a forma acabada da não solidariedade para com o próximo.

Óptimo fim de semana!

O Sibarita disse...

Pois é, né dona moça! A miséria, bom a miséria? Ah isso sei bem o que é, a maré, os alagados é que me deram régua e compasso... Todo lixo de Salvador entulhando os alagados... Ratos e baratas passeando, sorrindo e eu menino nas pontes de tamancos rachados fugindo da leptospirose... e aí?

-Não tem KKKK hoje, por que fio?
-Sua menina depois de ler esse maravilhoso texto e mais a poesia do Manoel Bandeira, fui remetido sem dó à minha infância, tem lágrimas, compartilho com você, somos sensíveis... Valha-me Deus!

Desculpe-me, deixo uma poesia mossa chamada ALAGADOS para você ver que o poema do Bandeira está certo, eis ai em suas mãos a minha infância.

ALAGADOS(Palafitas)

Dedicada aos amigos de infância das pontes Santo Antonio, Copacabana e Caêra. Bairro Vila Rui Barbosa, Salvador/Bahia.
Em memória: Gilson Caruru, Carlinhos Negão, Gilcéia, Vando, Mário Nagô, Valtemir, Luiza, Toínho Magriça e Tania que se foram de meningite, leptospirose, afogados...

Os versos,
são memórias e sonhos
da maré como lembrança
nos desejos da infância
vivida nas palafitas...

De pés descalços
correndo sobre as pontes
catando raios de sol
nas asas de um beija-flor!
Meu coração tinha enredos:
Melancolia e fantasias
palpitavam como folias
e desfilavam sem alegorias....

À noite
os momentos eram
infinitos, um fifó aceso
espantando a escuridão,
gatos lânguidos esfomeados,
ratos correndo dos algozes
e tamancos rachados
fugindo da leptospirose...

O tempo a noite
sempre se estendia.
Eu tentava empurrá-lo
com as mãos, pura agonia!
Ele teimava desfilar, entre
os meus dedos lentamente...
Segundos, minutos, horas e dias.
Parava o tempo!

Uma Ave Maria e um Pai Nosso
para amenizar o sofrimento...

Pela fresta,
via-se as últimas gotas
de estrelas trêmulas
circulando sobre
tábuas podres sobrepostas
e esqueletos de caibros
sob a lua que ludibriava
os telhados...

O dia
florescia pela enchente
atiçada pela maré de março.
Em cada barraco, olhos velados
retiravam o que tinha e o que não tinha...
Sufoco! O povo dos alagados
recorria a todos os santos,
sob a luz de um sol minguado...

Correi marezeiros!

Há nas pontes,
dependurados e sombreados:
desejos da vida, sangue em lágrimas,
trapos velhos e penicos furados
rasgando o ventre dos sonhos,
agora, macerados!

Bocas de caranguejos
asas de morcegos
e nenhuma flor como desejo...

A maré cheia
convidava ao mergulho.
Crianças davam caídas,
era o prazer do corpo na água,
o debater de braços e pernas, nadar!
Ingenuidade da flor idade...
Na borda do prazer,
a cilada montava o cenário
entre lixos, galhos e estacas.
O perigo é fatal... Tarde demais!
No azul, um sol de tempestades.
A morte é crua, a felicidade é fugaz...
Na adversidade mais um que se vai!
Erguia-se um silêncio,
há uma alma de desespero,
em fuga, pede a extrema-unção!
A tarde uivava, a dor se curvava,
nenhum padre, nenhuma benção,
mas, à noite te virá em orações!
Naqueles momentos,
a maré cumpria a sua sina,
vestia-se de cinza
e nos desesperos das lágrimas,
uma chuva fina...

Mas, não sei, era paradoxal!
Pratos vazios, tripas em revoluções,
urubus, cachorros e ganhamuns
lutavam por comidas no beira mangue.
Siris magros e mariscos aferventados,
crianças amareladas exangues.
O prato se repartia, mercúrio disputados,
lombrigas faziam greve de fome...
Um novo dia pintava, era a dona esperança!
Ela enganava à todos, saia de fininho e
se jogava das pontes, comida para pratos vazios.
Ai Deus! A fome rugia nos alagados, nua!
Enquanto, a morte, despudoradamente deitada
nos telhados filmava a cena de binóculo
na aba de pratos sonhados...

Sob um céu de jade,
natal chegava com luas estreladas!
Nos olhares quanta alegria
escondendo a dor, a melancolia...
Os barracos eram enfeitados,
no piso de tábuas carcomidas
a areia branca dava um toque mágico,
nos alagados enfim, tinha vida!
Nos jarros barro,
galhos de pitanga e espada de Ogum.
Folhas de arruda presas nas portas,
sal grosso nos telhados e alfazema
para espantar os maus olhados,
gatos pretos ludibriados...
A noite é o olhar e virá em clarões!
Nas janelas: nenhum chinelo, nenhum tamanco...
Papai Noel nunca vem, ele disfarça
e nem ao menos uma bola, uma boneca...
Crianças da maré sonham descalças!

No fundo de nós,
uns olhos de tormentos
torturados por natais iguais,
a procura de manhãs desiguais!

Valei-nos, Jesus menino!
Lembrai dos vossos pequeninos,
em vossas mãos os nossos destinos!

O Sibarita

Bjs,
O Sibarita