domingo, 22 de fevereiro de 2009

O COLAR E O BEIJO

Ritmos contagiantes, um batuque pulsante no Trio Elétrico de Salvador. Pessoas diferentes, culturas diferentes, músicas e estilos diferentes- Tudo em um só lugar. Ali, onde o chão parece refletir o calor, onde cada metro quadrado é dividido por milhares de pessoas. Bem ali, a maior festa popular do mundo.

O cansaço misturava-se com a energia do bloco. A animação era vista no rosto de todos, quer dançassem ou só acompanhassem o trajeto. Ela, com os pés doendo de pular axé, resolvia descansar limpando dos olhos uma gota da cerveja, arremessada por um indivíduo eufórico.

E, tão rápido como um passe de mágica, envolveram-na em um colar de Gandhi*, convidando para uma proximidade. Ela foi levantando a cabeça diante de uma figura vestida de branco e azul, com quase dois metros de maravilhoso e esguio comprimento. Ele estava ali, lindo. Sua pele era branca como uma seda, com nariz afilado e uma barba ralinha... Na cabeça, um turbante branco com pedras reluzentes. Seus dois olhos verdes a fitavam delicadamente e, por infinitos segundos, havia sumido todo o barulho do Carnaval. Tomou-a de um beijo aconchegante e incrivelmente combinado.

Havia avistado-o tempos antes, bem ao longe, e comentava com sua amiga de sua atraente beleza. Mas, agora, juntinhos, paralelos dentro dela a faziam questionar o porquê dele a escolher, dentre tantas pessoas incríveis que ali também estavam. Mas ela não deixou se abater pela falta de auto-estima. Estava ali e precisava saborear aquele momento.

Perguntou se ela falava inglês e ela arrependeu-se de não ter se matriculado a tempo no Cursinho. Logo a falta de palavras fora sentida, pois ambos não entendiam-se verbalmente. Nem seu nome conseguiu absorver. Mas, será que isso importava tanto? Seu olhar era o mais sincero, seu beijo, o mais encantador. Ficaria a noite inteira só abraçado o príncipe inesperado.

Providenciou uma caneta onde não mais acreditava. E escreveu seu e-mail e telefone. Aquilo não poderia ser passageiro. Ela precisava entender que ele era real, fora daquele mundo melódico e tumultuado.

E, logo, uma centena de pessoas a empurrava para o outro lado do bloco, separando-a daquele sonho de Carnaval.

*O colar de Gandhi, no Carnaval de Salvador, é cedido em troca de um beijo. Os homens, caracterizados com a indumentária de Filhos de Gandhi, carregam no pescoço dezenas de colares azuis e brancos para a respectiva troca.

Um comentário:

Sr do Vale disse...

Como artesão que sou, vou montar colares de contas azuis e branca.
E então falaremos em qualquer idioma, dialeto, ou simplismente ficaremos calados, para não espantar o momento...longe bem longe da multidão.