sábado, 12 de abril de 2008

MENINO DE OLHOS VERDES (Cont...)

O noivado dele fora a forma mais difícil de distância. Quem é tão importante em nossas vidas não merece ser arrancado de nós, por outro, ou outra. Ela se conformara. Com o tempo, tudo ajeitara-se da maneira mais tranquila para os dois. Havia se mudado de onde sua janela avistara a dele, e não mais conservara aquele mensageiro de vento com doze corações pendurados, que ele dera quando eles fizeram um ano de namoro. O objeto caíra de sua mão, em uma das suas arrumações do quarto. Ela quis limpá-lo, fazê-lo brilhar novamente, mas ele se transformou em pedacinhos de cristais, que não serviam pra mais nada.

Lendo seu -email, ela engolia seco na pergunta que ele fizera. Qual seria a última notícia que havia dele? E seus olhos lacrimejavam a procura do que responder. Nas suas lembranças, ficara terrivelmente abalada quando soubera do seu derrame cerebral. Era a última, e talvez a mais dolorida notícia que tivera dele.

O menino de olhos verdes era aquela imagem de vida, de luta, de perseverança. Mas, também tinha muita vaidade e orgulho. Vaidade essa que provocara o ciúme dela e, por conseguinte, as brigas. Ele sabia de sua beleza. Sabia que ela tinha bom gosto com homens. Não o escolhera por acaso. Seus imensos olhos verdes brilhantes era o que atraía e seduzia as mulheres.

Mas, agora, não entendia como ele lidava com a paralisia de alguns de seus membros. E não sabia a melhor forma de contar-lhe que sabia disso. Nada escreveu. Lia e relia seu pequeno texto, imaginando como seria difícil vê-lo nessas circuntâncias. Como já haviam dois e-mails recebidos, sem nenhum deles falar do que aconteceu, ela pressupunha que ele estivesse receioso de contar.

É sempre trágico lidar com o novo. Principalmente, para um jovem cheio de vida, perceber que ali finalizara seu sonho. E como sonhara em ser dentista! Uma das poucas coisas que o fazia chorar era esse desejo. Havia feito biologia, mas desistira pra seguir Odontologia. No seu quarto haviam materiais cirurgicos recém-comprados pras aulas, caneca em formato de dente, duas ou três arcadas dentárias e o jaleco branco, que ele fazia questão de vestir cada vez que ia a escola apanhá-la. Passava horas explicando a diferença de cada dente, colocando-a de boca aberta em seu colo. O que ele estaria fazendo agora? Havia alguma possibilidade de voltar a trabalhar como dentista, sem seu lado direito ter movimentos? E a sua noiva, assumira o acontecido da forma mais digna e justa?

Notícias que os dois brigavam não era mais novidade. Sua mãe vinha contar-lhe toda empolgada, achando que ajudaria na volta dele pra ela. Mas, ela não queria se meter. Não achava justo passar por cima da decisão tomada pelos dois, por um amor, agora platônico. Porém, não via com bons olhos as brigas dos noivos, frequentemente escutada da janela até ela se mudar. Eram gritos, palavrões que ele soltara, ao telefone, xingando e desmoralizando sua noiva. Deveria ser algo muito sério pra ele se alterar dessa forma. De certo, o menino de olhos verdes nunca fora calmo. Ele gostava de dramatizar, sim, principalmente pra chamar sua atenção e ganhar o que queria. Mas nunca, nos quase dois anos de namoro, ele a desrespeitou como fazia, agora, com a noiva. Talvez, essa relação que mativera agora o tivesse prejudicado. Ou talvez, fosse apenas o destino.

A última visão que tivera dele foi em uma noite, no trânsito engarrafado. Ela voltava pra casa da faculdade. Nesse dia, por mais curioso que fosse, havia pensando nele intensamente. Ela ainda imaginava como estava sendo difícil pra ele aceitar toda a nova readaptação de vida. Mas, na hora que o viu, seus pensamentos estava soltos, o que a fez pular pra cima do volante. Era ele, seu príncipe, passando na frente de seu carro, na frente de seus olhos, na frente de sua vida. Apressadamente, tentando ser o mais ligeiro que conseguia, atravessou de um lado pro outro. Via-se nitidamente que sua perna e seu braço estavam lentos, e que ele caminhara com dificuldade, mas pra ela nada disso importava. Sensações paradoxas, a vontade de buzinar, a alegria de vê-lo, o coração palpitante e... freiando todos os impulsos...o entendimento que aquilo não era o certo a se fazer. Ela não queria um reencontro dessa forma. E imaginava que ele também não. Ela sabia que ele poderia constranger-se com tamanha surpresa, criando um clima desagradável entre os dois.

Olhara tantas vezes para o computador nessa tarde. Sua impulsividade a fazia digitar, e apagar, e digitar mensagens tantas. Gostaria que ele soubesse que ela estava bem, então, fazia com que suas palavras fossem as mais perfeitas para aquele momento. Nos seus olhos, um planejamento antecipado e infantil da junção dos dois. E a certeza de que, se esse reencontro um dia acontecer, ela fará com que seja inesquecível. Não por ele, ou por ela. Mas, por uma estória de amor que merece final diferente...

13 comentários:

Sérgio Figueiredo disse...

Minha Amiga,

Como as tuas palavras são lindas e na maneira como as utilizas, como é bom e cativante ler esta estória que tens escrito.
Habitualmente num romance deste de tão puro e tão ardente, o final é sempre um final feliz. Neste teu caso, o final deixa-me em espera do reencontro que parece, nas tuas palavras, não ter continuidade. Não saberei se este é mesmo o final e se o casal Amoroso na sua relação, se voltarão a encontrar. Que pena... mas nem tudo pode ser como queremos.

Escreve...Escreve e dá-me outra estória de Amor.

Parabéns

Beijo Grande

jo ra tone disse...

Do pouco que li
Gande romance vai por aqui

Sé e dado em primeira mão,é
muito interessante ,cheio de criatividade
Obrigado pela visita
Voltarei para conhecer melhor
Cumprimentos
Bom fim de semana

Anônimo disse...

Todos merecemos histórias d emaor especiais. Gostei da tua forma de escrever.
Parabéns!
obrigada pela visita

Um Poema disse...

....
É bom conhecer novos amigos. É muito bom receber visitas.
Uma visita da terra de Jorge Amado é óptimo. Mas se essa visita é de alguém que escreve muito bem, então tudo se conjuga para que diga que os deuses estão comigo.

Um abraço

Яoьεяτα disse...

Lindo blog. Adorei.
Bjs

Bandys disse...

Bela historia de amor, voltarei mais vezes.
Obrigada pela visita.

Д grαηdε αrtε dε ƒαzεr αmigσs é μmα mαrα૪ilhσsα α૪εηtμrα σηdε αρrεηdεmσs α dεs¢σbrir ¢σrαçõεs.
Ťσdα αmizαdε dá sεητiηdσ ησ૪σ á ૪idα.
Beijos e uma semana de paz.

Rita Galante disse...

Olá. Vim aqui parar através de outro blog e fiquei encantada por ouvir uma das minhas cantoras preferidas - Enya! Muito bom gosto, o teu!

Voltarei com mais calma para ler esta história do menino dos olhos verdes.

Até lá deixo-te um pouco da minha luz.

Beijinhos cheios de Amor, Paz e Luz!

Adri disse...

Olá... gostei muito do conto...é uma prazer lhe conhecer, sera sempre Bem vida no meu blog ;)

Yura-chan disse...

Poxa, valeu pelo conselho, amei de verdade!
e adorei mesmo este texto!
brigado novamente;
beeijo;*

Daniel disse...

Olá Auréola Branca

Li e consegui imaginar a cena do problema patológico do estudante de medicina e da namorada altruista, capaz de se sacrificar, sustentando ternamente um amor platónico, sinal de que contas de uma meira bem estruturada, com olhar por terno, por este mundo dos humanos.

Considerações,
Daniel

São disse...

Perdão. mas não li ...
Fiquei ouvindo a música, que me agradou muito ...e olhando, angustiada, as fotos das crianças desaparecidas.
Que Deus esteja presente!

Chama Violeta disse...

Bom dia!!! Obrigada pela visita e adorei teu cantinho também!
Vou voltar para continuar a ler-te, pois escreves com a alma e o coração!

Um ótima semana para ti e muitos beijinhos de luz violeta!

Anônimo disse...

Linda estória...
esse menino dos olhos verdes poderia ser eu...ou qualquer outro dentre muitos.
Fica a dúvida de uma suposta comparação com algo ja passado por uma mesma menina...igual a da estória...

bjO